quarta-feira, 2 de fevereiro de 2011

Cimeira de Cancún...

Da COP 16, no México: Nada de Novo.

De 29 de Novembro a 10 de Dezembro teve lugar em Cancún, México, a cimeira herdeira dos temas fracturantes da homóloga de Copenhaga, que prometia uma mudança nas políticas ambientais dos países desenvolvidos, nomeadamente dos Estados Unidos, subtil quanto nula. As baixas expectativas não saíram defraudadas, e os Estados Unidos ainda não se comprometeram a seguir as linhas de corte de emissões de Quioto. Nada de novo. A par disso, a China, que luta pelo troféu de maior poluidor com o país supracitado, defende que se o seu rival americano não reduz as emissões, eles não têm por que reduzir, ainda por cima sendo considerados país em desenvolvimento, a responsabilidade ambiental tem que vir dos “desenvolvidos”. Em relação à Índia, idem. Assim se mantém uma economia em crescimento e um planeta em auto-destruição. Nada de novo. Consequentemente, o Japão, por os três países anteriores não assumirem as responsabilidades que têm nas alterações climáticas e no ataque à biodiversidade terrestre, também não querem ser os únicos a fazer o mais correcto, dar um passo em frente na defesa do futuro da Terra. Assim, os países industrializados empurram a culpa uns para os outros. Nada de novo.

Na verdade, o que houve de novo nesta Cimeira, foi a criação de um Fundo Verde que mobilizará 100 mil milhões de dólares por ano para os países em desenvolvimento, de forma a ajudar a combater as emissões de CO2. Esse Fundo contará com dinheiro que terá remetentes desconhecidos, e destinatários ainda mais obscuros. Esta é uma medida nova à boa maneira das indulgências pagas pelos abastados há uns tempos, de forma a garantir o perdão divino e reparar o mal cometido pelo pecado. Afinal, nem isto é novo.

No fim de mais uma Cimeira em que se deveriam encontrar soluções que permitissem cumprir Quioto, tudo se manteve na mesma: o Capitalismo e a ganância desenfreada vão continuar a destruir massivamente o planeta, não dando conta que sem planeta Terra os seus dólares e euros não valerão de nada. Assim, é mesmo caso para dizer: ou se salva o Capitalismo, ou se salva a Terra!

Quanto a Portugal, tudo continua na mesma quanto ao objectivo de redução das emissões de CO2. Neste sentido “Os Verdes” apresentaram, na Assembleia da República, uma proposta de alteração ao Orçamento de Estado para 2011, com o objectivo de canalizar parte da verba do Fundo Português de Carbono para investimento em medidas internas de promoção da eficiência energética. Em vez de se gastar na compra de emissões, investir-se-ia em medidas internas que minimizassem o recurso ao mercado de carbono. No entanto PS, PSD e CDS chumbaram esta proposta na Assembleia da República. O sector dos transportes, um dos principais responsáveis pelo aumento das emissões de CO2, continua a não merecer a intervenção necessária por parte do Governo, no sentido de criar reais alternativas à utilização do automóvel. Antes pelo contrário, temos assistido à insistência na pretensão de destruir a Linha Ferroviária do Tua, ou à suspensão do metro do Mondego, ou aos sucessivos atrasos no prolongamento e desenvolvimento do Metro Sul do Tejo.

Também quando assistimos à destruição permanente do sector produtivo nacional e à cada vez maior dependência do país pelas exportações de mercadorias, cujo transporte contribui seriamente para o aumento do efeito de estufa, não só estamos a negar ao país um melhor desempenho ambiental, nomeadamente em termos de Quioto, mas estamos também a hipotecar a possibilidade de Portugal desenvolver a sua economia e o seu mercado interno, de reduzir o grave problema do desemprego, da pobreza e da exclusão social.

É caso para dizer que em Portugal “Nada de Novo”.

Dulce Arrojado
Dirigente Nacional do PEV
Folha Verde Nº. 67 Janeiro 2011



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Intervenção da Deputada do PEV, Heloísa Apolónia - declaração política sobre a conferência de Cancún e as alterações climáticas - proferida na Assembleia da República a 9 de Dezembro de 2010

http://www.youtube.com/user/peverdes#p/u/20/ikd9msp74LM

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