terça-feira, 26 de janeiro de 2010

O fantasma da incineração

A Associação de Municípios da Ilha de S. Miguel (AMISM) volta mais uma vez com a ideia de construir uma super-incineradora para tratar os resíduos sólidos urbanos da ilha.

Como sistema de gestão de resíduos, a incineração já não é aceite praticamente por ninguém. É um sistema altamente contaminante, que lança para o ar uma grande quantidade de produtos químicos, como dioxinas e metais pesados, com comprovados e terríveis efeitos para a saúde. E ainda lança também os já conhecidos gases de efeito estufa.

Mas a incineração é também um modelo de gestão que não tende a reduzir o volume de resíduos produzidos. Com a sua chamada “valorização energética” (obtenção de energia mediante a combustão), existe o risco de não travar, ou ainda de chegar a potenciar, o aumento da produção de novos resíduos.

Ainda por cima, a construção duma incineradora exige um enorme investimento (neste caso, aponta-se para o astronómico valor de 80 milhões de euros), sendo a sua rentabilidade económica muito duvidosa. Rentabilidade que acaba por ser claramente negativa quando se considera todo o ciclo energético dos materiais, o tratamento das cinzas e outros resíduos da incineração, os custos ambientais dos gases com efeito estufa e os custos para a saúde provocados pelos contaminantes.

Assim, qual é afinal a vantagem da incineração? A única vantagem parece ser para os maus gestores, pois aparentemente faz os resíduos “desaparecer no ar”. Como é bem sabido, quando um problema incomoda e revela a nossa incompetência, que melhor que queimá-lo? Ainda que, neste caso, nem sequer desaparece por completo, pois no rescaldo ficam as cinzas, um resíduo ainda mais tóxico.

Quais são as vantagens da RECICLAGEM? - Redução da quantidade de Resíduos Sólidos Urbanos (RSU) que vão para aterros sanitários, prolongando o tempo de vida útil destas infra-estruturas."

Estas sábias palavras pertencem a um folheto informativo da Associação de Municípios da Ilha de S. Miguel, titulado “Uma paisagem para preservar”... Esquecimento? Pouca memória? Novos interesses?

A recolha de resíduos orgânicos (até agora incluídos no lixo indiferenciado) e o seu tratamento e reutilização é já uma realidade, obrigatória, em todas as grandes cidades europeias. A sua implementação na ilha de São Miguel não seria também outra medida, mais barata, útil e efectiva, para a redução de resíduos que vão para os aterros sanitários?

É provável que o fantasma da incineração, invocado pela negligência e a falta de ideias, volte a vaguear entre nós mais algum tempo.

© DMS. Ambiente insular. 2004.
http://www.ambienteinsular.uac.pt/humor.htm

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