terça-feira, 9 de outubro de 2012

Sair do sofá e optar por mudar o mundo

Sair do Sofá e Optar por Mudar o Mundo
Daniel Gonçalves
Dirigente Nacional do PEV e Cabeça de Lista da CDU pelo círculo eleitoral de Santa Maria

Podia continuar sentado no meu sofá a apreciar a redondeza do meu universo, as minhas coisas, os meus problemas, o meu conforto e o meu desconforto, a minha sombra presa ao meu descanso.

Mas incomoda-me saber que a água da ribeira corre inevitavelmente e não volta atrás, que se houvesse alguma coisa para fazer teria de ser feita agora e não depois. Agora, interrompendo a minha paz, o meu lugar seguro, a minha concha. É por isso que decido sair.

Sair, é, portanto, uma questão de manifesto. Manifesto-me. Opto por mudar o mundo. Disseram-me que este mundo estava errado, mas fui percebendo isso por mim, de uma forma extremamente simples: somando pequenas coisas e obtendo tarifas erradas: a fórmula da injustiça.

Mudo o mundo pegando numa ferramenta elementar. Escuto os sábios e partilho o conhecimento. Alerto, elucido, ilumino o caminho. Arranco ervas daninhas e no lugar delas deixo alguns sonhos. Mudo o mundo com essas pequenas coisas, às vezes tão óbvias como lembrar que sem a Terra não temos casa.

Podia continuar sentado no meu sofá? Não. Fazer parte do Partido Ecologista Os Verdes é esquecer o sofá e sair de casa para mudar o mundo. Aos poucos as pessoas vão-nos reconhecendo por isso.

A luta é grande e somos precisos mais. Para dividir o peso e para partilhar a alegria de alcançar objectivos. Nos Açores somos ainda poucos, mas tudo começa assim, lentamente. Em Santa Maria, começamos há quatro anos a ganhar expressão e foi graças a essa expressão que conseguimos, nas autárquicas, ganhar com a CDU, pela primeira vez, um deputado na Assembleia Municipal. Agora, o PEV tem a oportunidade de se afirmar em Santa Maria e, quem sabe, conseguir uma representação parlamentar na Assembleia Legislativa Regional dos Açores. Santa Maria elege três deputados e cerca de seiscentos e cinquenta votos são o que nos separa desse objectivo. Tenho a certeza que o PEV nos Açores ia ter um campo de batalha fantástico para vincar os seus ideais. É o local perfeito para acertarmos a harmonia do progresso do homem com a defesa do seu ambiente.

A nossa campanha há-de ser um manifesto contra a resignação. Vamos tentar tirar mais gente do seu sofá e somar à nossa ideia outros mais. Vamos lembrar as pessoas que é preciso pensar a criação de riqueza de outra forma, assegurando o futuro às gerações vindouras. Poupando os recursos do mar, explorando-os de forma a garantir um sustento eficaz no presente e ainda mais precioso amanhã. Gerindo, no fundo. Da mesma maneira que é preciso gerir a água, sobretudo nas ilhas, onde ela não é abundante de forma generalizada.

Se for bem gerida, se houver uma política para a água, a água não será um problema, mas sim um factor de desenvolvimento. Nas ilhas há dois elementos fundamentais: a água e a terra. E uma dinâmica entre os dois. Já referimos que é preciso uma política para a água que seja consciente do seu valor, mas é igualmente fundamental que a terra seja trabalhada de forma a garantir que seja potenciada de forma equilibrada. Ao longo dos últimos anos a terra foi trabalhada com base em monoculturas, arruinando ecossistemas e empobrecendo em vez de criar riqueza. No fundo, teimou-se numa cultura de subsistência, de resistência, em vez de uma cultura de desenvolvimento e de defesa do investimento. Não é admissível que nos Açores se importe fruta e legumes ou mesmo cereais e ao mesmo tempo se desperdice leite e se abatam vitelos, por serem produzidos em excesso. São ideias simples que precisam de impulsos fortes para serem postas em prática.

É esse o nosso caminho. E estar atento às pessoas com quem nos atravessamos, sobretudo os jovens, que se não os houver não há forma de querer um futuro. Provavelmente este foi o maior erro dos últimos governos regionais: investir em infraestruturas esquecendo o seu propósito essencial: as pessoas. A estratégia é sensibilizar os jovens para a herança que está à sua disposição e, a partir daí, ganhar confiança e um lugar onde seja possível mudar o mundo.


Texto publicado na Folha Verde nº77.

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