O Governo criou uma comissão que apresentou uma proposta de Fiscalidade Verde que colocou em consulta pública, para que o Governo depois apresentasse a sua proposta, a integrar o orçamento de Estado para 2015. Mas esta é uma matéria demasiado complexa que não foi debatida com a profundidade que a sua importância exige.
Uma reforma de fiscalidade, promovida sob a parangona da neutralidade fiscal, mas que se trata de mais um agravamento da carga fiscal. Neutralidade, justificam, porque as receitas a gerar, sendo as mesmas para o Estado, não irão criar encargos adicionais. Ou seja, o Governo encontrou um estratagema para que os grandes aumentos de impostos, feitos nestes “3 anos de Austeridade” e que supostamente seriam temporários, passem a ser permanentes. Com o rótulo verde o Governo garante que a receita da austeridade se mantenha, com a forte penalização do consumidor.
Toda esta pretensa vontade de enverdescer comportamentos assenta numa lógica de penalização do cidadão pelos “más atitudes ambientais”. Trata-se sim de uma penalização numa sociedade que cada vez menos tem alternativas a oferecer aos seus cidadãos. Uma penalização perversa e que rejeita completamente a abordagem pelo incentivo e pela promoção de condições que fomentem uma mudança de hábitos.
Tomemos como exemplo a adesão à reciclagem, a existência de infraestruturas e a sensibilização e educação ambiental contribuíram muito para que as pessoas em geral aderissem à reciclagem e alterassem os seus comportamentos em relação à deposição de lixo sem que fossem forçadas pela taxação ou pelo aumento de impostos.
Penalizar a utilização do automóvel até pode ser legítimo, mas quando cada vez menos existem alternativas de mobilidade torna-se perverso. Por exemplo há nesta reforma muito pouca aposta na mobilidade ferroviária, não propõe a melhorar o sistema de transportes públicos.
Se se quer tirar o automóvel particular do centro das cidades é fundamental que exista uma oferta de transportes públicos acessíveis. Mas quando os utentes da Fertagus não podem usar o passe social, não se está a estimular o uso de transportes públicos, quando se reduzem horários, retiram carreiras, aumentam o preço das viagens e dos passes não se está a contribuir para essa mudança. Quando se desarticulam horários, se deixam as frotas caírem de podre, se retiram carruagens não se está a convidar as pessoas a usarem os transportes públicos.
Quando se entregam ao setor privado os transportes para que assentem numa lógica de lucro ou de compensações pelo serviço público que devem prestar não se está a promover uma política de comportamentos amigos do ambiente.
Quando os cidadãos não têm alternativa, é muito fácil taxar as entradas nas cidades, prevista nesta fiscalidade verde, para se angariar rapidamente impostos que ajudem a resolver problemas de contas públicas, mas não de mobilidade, ou ambientais.
Esta fiscalidade verde é, de fato, um agravamento de impostos. É profundamente ideológica e continuará a contribuir para uma injusta e desproporcionada distribuição da riqueza, aumentando o fosso entre os que têm e os que não têm, entre os que podem e os que não podem.
Os Verdes têm apresentado inúmeras propostas fiscais que incidem sobre matéria ambiental e que têm sido sistematicamente rejeitadas. Propostas como a dedução do passe social no IRS, redução do IVA para aquisição de bicicletas, consignação de parte do ISP (imposto sobre produtos petrolíferos) para investimento e desenvolvimento dos transportes públicos, reposição de benefícios fiscais na aquisição de energias renováveis, redução do IVA para produtos com materiais reciclados. Só para dar alguns exemplos.
Daí que é fácil perceber que esta não é uma justa e séria reforma de comportamentos mas sim um estratagema fiscal de aumento da receita.
Para mais que não há nenhum programa de sensibilização dos cidadãos, nenhuma componente da formação, informação e educação ambiental do consumidor a acompanhar esta reforma. Certamente não é este o objetivo do Governo.
Os Verdes não podem concordar com esta reforma fiscal pseudo-verde cujos objetivos não têm nada de verde mas muito de fiscal.
Folha Verde n.º 89
setembro - outubro 2014
setembro - outubro 2014
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