segunda-feira, 9 de dezembro de 2013

Conferência do clima: nova condenação à morte do planeta

Declaração política da Deputada Heloísa Apolónia sobre a 19ª convenção das partes da Organização das Nações Unidas sobre alterações climáticas, em Varsóvia.



A 19ª conferência das partes da Convenção das Nações Unidas sobre alterações climáticas, decorreu em Varsóvia, com representantes de cerca de 190 países, tendo finalizado os seus trabalhos no passado dia 23 de Novembro.

Tendo este Parlamento estado quase exclusivamente envolvido na discussão do terrível Orçamento de Estado para 2014, enquanto decorria a Conferência mundial sobre o clima, não houve possibilidade de fazer um acompanhamento em plenário dos seus trabalhos, mas o PEV considera que os resultados desta Cimeira não podem passar à margem da abordagem parlamentar e, por isso, importa fazer a declaração que se impõe.

A principal questão a assinalar é que, mais uma vez, da conferência do clima não resultaram compromissos para uma ação pós Quioto, com vista à redução das emissões de gases com efeito de estufa, para minimizar o fenómeno, já tão evidenciado, dos problemas e tragédias decorrentes das alterações climáticas. O que se fez foi determinar que para o ano, no Perú se trabalhará uma versão preliminar de um novo acordo global, que deverá ser apresentado e aprovado na conferência de 2015, em Paris, com o objetivo de entrar em vigor em 2020.

Em 2020 já se avançou quase um quarto do século em que a comunidade científica, designadamente por via do novo relatório do IPCC (o painel intergovernamental para as alterações climáticas), prevê que se possa assistir a uma escalada da temperatura média planetária em cerca de 5 graus e que a subida dos níveis dos mares avançará mais do que se previa em 2007, confirmando simultaneamente que se a mudança climática tem uma influência de fatores puramente naturais, a sua aceleração deve-se, numa enormíssima percentagem, fundamentalmente à superprodução de gases com efeito de estufa (em especial dióxido de carbono) à escala global, o que leva à ocorrência de mais fenómenos climáticos extremos.

Parece quase propositado, por parte de uma Natureza que não perdoa ataques constantes: cada conferência anual das partes tem sido precedida de um drama climático devastador. Desta vez foi o mega tufão nas Filipinas, que matou mais de 10.000 pessoas e deixou sem nada centenas de milhar. Mas, mesmo assim, os entraves políticos e económicos dos líderes de vários países, têm-se sobreposto a uma ação eficaz de mitigação e adaptação mundial às alterações climáticas.

Os Estados Unidos da América continuam a procurar diluir a sua responsabilidade, exigindo agora que um futuro acordo se aplique da mesma forma a todos os países, pobres ou ricos, muito emissores de gases com efeito de estufa ou pouco. Enfraqueceram-se objetivos de países como a Austrália, o Canadá ou o Japão. A China não pode obviamente ficar de fora. Mas tudo continua em aberto e se houve coisa que a conferência de Varsóvia demonstrou é que ainda não há compromissos, quanto mais ações!

Foi esta falta de ambição, de preservar este Planeta, que levou as principais organizações ambientais internacionais a abandonar a conferência antes de esta concluir os seus trabalhos.

Mas, nos dias que correm, há mais uma coisa que se impõe dizer. Há substancialmente duas formas de concorrer para a redução de gases com efeito de estufa: através de investimento em modos de produção e de vida sustentáveis, ou através do aproveitamento dos efeitos da crise e dos brutais problemas económicos e sociais daí resultantes. A primeira via é a desejável, a segunda é batota e insustentável! Um exemplo: se em Portugal as pessoas reduzirem o uso do automóvel porque estão desempregadas, e já não se deslocam para o emprego, ou porque emigraram ou porque lhes cortaram os salários, esta não é a forma de dar resposta à diminuição do uso do transporte individual. A forma sustentável é uma boa rede de transportes públicos, com preços acessíveis e com qualidade de oferta adaptada às necessidades das populações. Outro exemplo clarificador de erros que se podem cometer é o programa nacional de barragens que concorre diretamente para a degradação do litoral, afetado pela subida do nível dos mares, e depois lá vão pedir milhões e milhões de euros aos contribuintes para reparar os erros no litoral, depois da EDP ter lucrado milhões e milhões nas barragens!

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