Um estudo científico publicado recentemente na revista “Environment International”, realizado por investigadores do Instituto de Saúde Carlos III de Madrid, demonstra que existem riscos significativos de contrair diversos tipos de cancro para as pessoas que moram nas proximidades de incineradoras.
Há muito tempo que se sabe que as centrais de incineração de lixo doméstico emitem uma grande quantidade de compostos carcinogénicos ou potencialmente carcinogénicos, como dioxinas, arsénico, crómio, benzeno, hidrocarbonetos aromáticos policíclicos, cádmio, chumbo, tetracloroetileno, hexaclorobenzeno, níquel e naftaleno. E diversos estudos científicos realizados até agora têm vindo a assinalar que as populações que residem perto destas incineradoras têm um maior risco de contrair algum tipo de cancro, nomeadamente tumores hematológicos, cancro de pulmão e cancro no aparelho digestivo.
O estudo agora publicado por cientistas espanhóis é o resultado duma minuciosa investigação sobre as populações espanholas que vivem nas proximidades das estações de incineração de lixo. O resultado, que aponta no mesmo sentido que os anteriores estudos, revela que existe um maior risco para as pessoas que moram perto duma incineradora de contrair cancro de pulmão ou uma combinação de diferentes cancros. E ainda que existe uma maior probabilidade de contrair cancro de pleura ou vesícula biliar nos homens e de contrair cancro de estômago nas mulheres.
Apesar da existência de toda esta informação científica, nos Açores o governo regional e as autarquias continuam a insistir na sua obcecada opção pela incineração do lixo urbano. Continuam também a fugir do debate sobre se as incineradoras projectadas produzem ou não mais energia daquela que consomem, pois elas de facto consomem combustível para conseguir incinerar o lixo. E é preciso contabilizar igualmente a energia gasta na produção dos materiais que, por não ser reciclados, se perdem definitivamente com a incineração. Nesta sua atitude fundamentalista, o actual governo chega mesmo a esquecer a opinião contrária manifestada por anteriores responsáveis do ambiente no governo regional.
E assim, como afinal parece que não vivemos em tempos de crise económica nem de dificuldades financeiras, as duas entidades municipais responsáveis pelos projectos, a AMISM e a TERAMB, vão gastar muito alegremente perto de 100 milhões de euros, sem contar as derrapagens e outros custos, na construção das duas incineradoras de lixo de São Miguel e da Terceira (orçamentadas em 69 e 26 milhões de euros respectivamente).
Nós os açorianos, os futuros doentes de múltiplos tipos de cancro, os também futuros consumidores e exportadores de leite natural e de qualidade contaminado agora com dioxinas, os futuros cidadãos ainda mais arruinados pela construção destas custosas e inúteis infra-estruturas, os futuros importadores de lixo para conseguir manter em funcionamento as duas centrais de incineração, os futuros habitantes dumas ilhas evitadas pelo turismo e pelos turistas, os futuros assistentes ao enterro da tão famosa consciência ambiental açoriana, não temos grandes motivos para alvoroço.
O estudo pode ser consultado em:
http://www.sciencedirect.com/science/article/pii/S0160412012002279
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